1 de outubro de 2008

GOOD MORNING



Manhã animada essa.

Saí de casa e tava chovendo. São Paulo + chuva = trânsito. Logo na primeira avenida que o ônibus pega, um congestionamento daqueles. Pra melhorar, a droga do teto do busão tava com goteira, bem em cima da poltrona da minha mulher. Por sorte, o ônibus tava meio vazio hoje e a gente conseguiu outro lugar pra sentar.

A poltrona tava do outro lado do ônibus... não consegui me encaixar direito nela e, em conseqüência, não consegui dormir durante todo o trajeto. Aproveitei pra ficar ouvindo o 3º disco do Living Colour que eu tinha baixado no celular.

É chato. Pela primeira vez na vida me deparei com uma banda assim. Vocal afinado, potente, instrumentistas sofisticados, competentíssimos. Virtuosos, até. Mas sem talento algum para compor. Me decepcionei bastante.

Enfim.

Cheguei no trabalho e tava até dentro do horário que eu costumo chegar, a chuva não me atrapalhou tanto quanto eu havia imaginado.

No escritório, guardei minhas coisas na gaveta da mesa e liguei o computador. Tava com sede. Fui até o bebedouro e percebo que só descem algumas gotas pela torneira. O galão de água mineral estava vazio.

Fui até a outra sala pegar o galão quando sou surpreendido com os chamados de duas colegas para que eu vá à mesa delas. Elas me contam que eu fui promovido, que meu nome está no Diário Oficial do Estado e que nos próximos dias me tornarei definitivamente um “Controlador de Pagamento de Pessoal nível II”. O que representa, em termos práticos, uns 15 merréis a mais no contra-cheque (isso mesmo, 15 reais). Fingi estar feliz diante de todos.

Após os cumprimentos e as falsidades de praxe, fui trocar o bendito do galão d’água. Limpo o bicho com  álcool, pego um estilete para romper o lacre do dito-cujo e enfio o trambolho no bebedouro (já com a garganta seca e sem muita paciência a essa altura do campeonato).

Na hora de fechar o estilete abro um rombo no meu dedão esquerdo. O sangue jorra. Corro até o banheiro. Está fechado. O tiozinho da limpeza ainda está lá dentro dando o último trato. O sangue da minha mão está gotejando no chão nesse momento.

O tiozinho, simpático, abre a porta pra mim, se admira com o tamanho do rasgo no meu dedo e fala pra eu ir pro ambulatório daqui do prédio. Ainda não deu 8 horas. Imagino que ainda esteja fechado, sem ninguém pra atender. Fico com a mão embaixo de água corrente durante alguns minutos, com o sangue se recusando a parar de jorrar da ponta do dedão. Ouço o sino da catedral aqui perto badalar 8 vezes.

Sigo o conselho do tiozinho da limpeza e vou ao ambulatório. Chegando lá às 8 em ponto, e, como seria razoável supor, (é óbvio, claro, lógico, imagina se não) não tem ninguém lá. Aliás, tem o médico (clínico-geral é médico?) que atende lá. Meio rabugento ainda, talvez por causa do sono matinal e do clima chuvoso que foi obrigado a enfrentar após sair de sua cama quente, o médico disse pra eu apertar o dedo contra um lenço de papel, pra estancar um pouco o sangramento enquanto eu esperava a enfermeira chegar (afinal, o “dotô” não ia se sujeitar a fazer um curativo, né? Isso é trabalho de enfermeira).
 
Fico aguardando num sofá. Depois de alguns minutos, escuto passos. Enfim, a tal enfermeira.

Nada. Era só recepcionista do ambulatório.

Passo a ela meu nome completo e a sessão onde trabalho. Ela diz que a enfermeira “já tá chegando”.

Exatos 40 minutos após eu ter chegado lá no ambulatório, finalmente a enfermeira chega, me faz um curativo e eu subo de volta à minha sessão. Mostro, gloriosamente, a atadura em minha mão.

E o pior de tudo isso é que eu fiquei esse tempo todo, desde que eu saí de casa, com uma vontade danada de fazer cocô...