9 de fevereiro de 2009

NO MEIO DO CAMINHO, UMA BALADA; UMA BALADA NO MEIO DO CAMINHO



Nasci em 1980. Nas duas décadas anteriores aconteceram mudanças de comportamento que forjaram a sociedade ocidental tal qual conhecemos hoje. Minha geração contribuiu pouco para essas transformações. A atual deve contribuir menos ainda.


Voltemos aos anos 60 e 70. A contracultura e a emancipação feminina viraram o mundo de cabeça pra baixo. Música, comportamento, moda, relações sociais, tudo se transformou durante esse período, tanto na concepção como na essência.

No Brasil em particular as mudanças no visual foram as mais impactantes. Do carnaval às apresentadoras de programas infantis, uma aparência sedutora sempre foi pré-requisito. Belas mulheres em roupas curtas, eis a chave do sucesso.

Porém, onde falta pudor na estética sobra provincianismo no trato. A relação do brasileiro com o sexo continuou a mesma. Realiza-se pouco, mas passou-se a se insinuar mais.

Embora as alterações no modo de se apresentar tenham sido chocantes, a liberdade no que se refere ao agir e fazer é bem menos empolgante. A timidez, o sentimento de culpa e o medo do julgamento de outrem ainda fazem parte da rotina.

No último sábado teve uma festinha adolescente em um sobrado perto de casa. Havia meninas por toda parte. No andar de baixo, na calçada, até parte da rua estava tomada por elas. Dançavam ao som de um popular "pancadão", com letra maliciosa e provocante. Deviam ter uns 15 anos, todas já trajando calças de cintura baixa, saltos altos e tops curtos. Barriguinhas de fora e cabelos ao vento, elas caprichavam na dança e nos movimentos sensuais pra chamar mais atenção do que a colega ao lado.

Os meninos, mais ou menos da mesma idade, concentravam-se na parte de cima do sobrado. Cada um se esforçando bastante pra parecer másculo. Uns bebiam, outros fumavam. Até um narguilé arranjaram. Todos falavam grosso e mexiam bastante os braços, para mostrar os músculos recém adquiridos.

Não é muito fácil sincronizar esses movimentos. Digo por experiência própria.

Daí que estavam meninos de um lado, meninas de outro. Eles no piso de cima, elas no térreo. Cada um tentando parecer mais do que é, querendo chamar a atenção de todos para se destacar de seus pares. Quem sabe, atrair alguém do sexo oposto.

Saldo ao fim da noite: meninas cansadas, com os pés em frangalhos, e meninos bêbados, sem a consciência quanto à ressaca que os aguarda. Terminam a noite ainda mais separados do que no início da festa.

O sono e a cerveja confundem o raciocínio, mas a conclusão é inevitável. A probabilidade de rolar alguma coisa já não parece tão alta quanto parecia no começo da noite. Talvez dê pra pegar o telefone daquela amiga do amigo da amiga. Qual o nome dela mesmo?

Saí da adolescência há mais de uma década. Pouca coisa mudou de lá pra cá.