24 de março de 2009

AMOR É COISA DE MACHO



Um relacionamento só existe enquanto o homem quer.

Não estou falando de longos processos de divórcio que se arrastam por anos. Estes em geral são as mulheres que solicitam.

Também não me refiro àqueles relacionamentos que se prolongam desmedidamente, sem que nenhum dos dois esteja satisfeito. Estes também são interrompidos, na maioria das vezes, pelas mulheres.

Nesses casos o vínculo entre os dois já se perdeu em algum tempo lá atrás. A separação dos corpos não coincide com o término do romance.

O que estou dizendo é que sempre será a vontade do homem que determinará o futuro de um casal. O que é natural, já isso acontece desde o momento em que ambos estão solteiros. Se ele não correr atrás não acontece nada.

Mulheres são cortejadas. Homens cortejam. Isso é da natureza do ser humano. Se o cara tá afim de conquistar determinada mulher, irá batalhar por ela, fará de tudo pra chamar sua atenção. À mulher, cabe avaliar e decidir se vale a pena. Nenhum dos lados é melhor nem pior que o outro, apenas funcionam assim.

Mesmo uma mulher que, de início, se demonstre desinteressada pode acabar se interessando por um cara que demonstre empenho em sua conquista. Ele foi à luta: enviou flores, mandou torpedos, escreveu e-mails, alguns poéticos, outros cômicos. Quando saíram, ele foi simpático, engraçado e prestativo, na medida certa. Teve até uma vez que ele deu pra ela um pen-drive, com uma só música, aquela que seria a nossa música.

Mas isso é só a fase da conquista. Para romance continuar, é preciso que o cara insista.

Uma palavra mais exaltada, um ataque de ciúmes, uma manha, isso é natural e recorrente. Basta jogo de cintura e uma caixa de bombons à mão e os problemas são contornados.

Só que as responsabilidades aumentam. As diferenças ficam maiores com o passar do tempo. A vontade de permanecer junto deve crescer na mesma proporção.

Logo, logo, ela estará sonhando com mais atenção, mais segurança. .Quer estabilidade, um cachorro e um apartamento de 3 quartos. Com sacada, closet e uma suíte.

Ele não precisa dar tudo a ela. Mas tem que demonstrar que está disposto a dar a ela tudo que merece. Não deu pra conhecer Cancún, mas aquela pousada na Serra Gaúcha foi muito legal. A ideia é essa.

No começo ela nem tava muito afim. Achou ele nada a ver, sem sal. Mas se sensibilizou com o empenho do sujeito. Ao longo dos anos foi descobrindo suas forças, sua aplicação, seu jeito obstinado de fazer o melhor, a dedicação às coisas que importavam e o desapego àquilo que não faria diferença. Chorou assistindo “Marley & Eu”, mas é um homem confiável e seguro. Viril, no fim das contas. Passou anos ao seu lado sem morrer de amores por ele, mas já não sabe mais como deixá-lo. Se apaixonou profundamente sem ter se dado conta.

Vejamos agora a situação inversa. Vamos voltar lá atrás. Ambos estão solteiros. A mulher se interessa e o cidadão mal nota que ela existe. O que a mulher pode fazer?

Já na hora da conquista existem poucas armas. Ela irá fazer o quê? Talvez colocar um vestido, com um belo decote e um perfume gostoso.

Se ele não gostou do que viu antes (um sorriso forçado, aquela pinta fora do lugar, mãos grandes, qualquer coisa) nada disso irá adiantar.

Suponha que ele tenha gostado. Namoram.

Passou algum tempo. Ele não tá mais naquela fissura. Nunca esteve, pra falar a verdade.

Houve desgaste. Ficou cansado com todas aquelas responsabilidades. Agora é casar ou se separar. Gosta dela? Gosta, mas...

O que ela pode fazer? Nada.

E o vestido? O decote? Nada.

E se ela for super legal, deixá-lo sair com os amigos, comprar o DVD do Batman (que ele não conseguiu ver no cinema) pra assistir no domingo? E se ela comprar cerveja, costurar o meião de futebol e fizer bolo de chocolate? Gratidão, não amor.

E se ela ainda o espera com pernil no forno e Super Bowl na TV da sala? Amizade.

E se ela veste aquele baby-doll que ele adora, faz francesinha nas unhas e coloca ao lado da cama aquele vidrinho de óleo de bebê que comprou no último aniversário? Tesão.

Mulheres associam esses sentimentos (tesão, amor, gratidão, amizade) ao seu companheiro. Mesmo que não haja o ímpeto inicial da paixão, constrói-se uma relação com uma mulher adquirindo-se a sua confiança. Passo-a-passo estabelecem-se os demais sentimentos no casal, o coração da mulher é arrebatado de vez, o homem cultiva esse amor e o relacionamento perdura.

Homens, por sua vez, lidam bem com tais emoções de forma separada. Não é porque um homem aprecia a companhia de uma mulher que ele irá se apaixonar por ela. Tampouco o enlouquecerá de paixão aquela que lhe faz maravilhas na cama. Não necessariamente. E nada garante que ela sendo super boazinha irá despertar sentimentos mais nobres em seu peito.


Aquele amor puro, original, é um sentimento genuinamente masculino, portanto. É algo que nasce no coração do homem logo no contato inicial. Ou gosta ou não gosta. Assim mesmo, de primeira. Se isso irá se desenvolver ou não, dependerá do equilíbrio sentimental dele.

Isso o torna egoísta. A responsabilidade sempre cairá em suas costas. O que não é um fardo nem privilégio, apenas uma constatação.

19 de março de 2009

RETRATOS DA VIDA A DOIS



Suponha um jovem casal, formado por duas pessoas que estejam lá pelos 20 e poucos anos. Ambos recém-formados ou já na reta final da faculdade, vivendo aquela fase de não querer mais morar com os pais, mas ainda sem grana suficiente para bancar uma casa.

Eles estão em início de carreira. A remuneração é baixa e às vezes nem isso. Um estágio, um treinamento, uma bolsa de estudos e olhe lá.

O caminho óbvio para os dois é juntar forças. Ajeitar um cantinho próprio pra conquistar a tão sonhada liberdade. Procuram alugar um apartamento pequeno, baratinho, de preferência perto do trabalho e/ou da faculdade. Se tiver um supermercado perto e um barzinho na rua de trás, perfeito.

Encontraram! O prédio é velhinho, meio zoado, mas o zelador é gente boa, o elevador funciona direitinho. E, vejam só, a padaria da esquina entrega leite na portaria.

A casa é pequena, sim, e o dinheiro é curto. Mas perde-se pouco tempo entre serviço, lazer e moradia. Quase não há o que administrar além do amor que os uniu.

Ela cozinha, ele lava. Eventualmente trocam de tarefas e dão risada quando tentam ensinar um ao outro. O grande barato, aliás, é ficar junto, conviver. Acaba sendo divertido aprender o dividir o espaço com o outro. Passeios no shopping e shows de rock tornam-se secundários.

E mesmo que fossem prioritários, não há dinheiro mesmo... O jeito é se adaptar.

Adaptação! Eis a palavra-chave.

Aos 20 e poucos anos é fácil se adaptar. Você já vem de um longo processo de adaptação, que começou lá nos seus 12-13 anos, quando seu corpo passou por tantas transformações que até você se assustou.

Durante esse meio-tempo ainda teve as equações de 1º e 2º graus, o primeiro beijo, a prova de Genética, o encontro com a vida noturna, a tabela periódica, a descoberta da ressaca e o vestibular. Você conheceu novos amigos, novas normas, novas regras, novos conceitos e novas concepções de vida.

Enfim, durante toda essa fase você é a adaptação em pessoa. Logo após a faculdade, a habilidade mais desenvolvida em qualquer pessoa é a sua adaptabilidade.

O que é bom, já que a vida imediatamente coloca toda essa capacidade à prova.

Uma vez superados os primeiros obstáculos, o casal satisfaz seus desejos iniciais e começa a cultivar novos sonhos. Um carro novo, um apartamento maior, bons restaurantes, uma viagem ao exterior, um filho.

O tempo ainda não é escasso, mas já não sobra aqueles minutinhos pra ficar à toa. Agora os dois estão cumprindo jornada integral fora de casa, chegam em casa à noite, cansados. As risadas pela casa agora são raras, eles passam a se curtir só nos finais de semana. Isso quando não precisam visitar os parentes ou amigos que os intimaram para aquele churrasco de domingo à tarde. As conversas mudaram.

A conta de luz tá alta. O cartão de crédito estourou quando você comprou aqueles sapatos novos. Quem mandou querer trocar o carro? Vamos aumentar o limite do cheque especial, então. E meu curso, quem que paga? Eu sabia que era pra ter comprado aquele aparelho de som naquele dia.

Os dias se tornam mais longos. O trabalho não é apenas cansativo, são obrigados a conviver com pessoas medíocres.

Chegando em casa, quero tomar banho, uma aspirina e direto pra cama.

Eles dão duro o mês inteiro, pagam as contas. Sobrou pouco.

Nossa, faz tempo que não vamos ao cinema. Eu deveria ter investido em ações.

A paciência foi embora, já estão na casa dos 30. Eles têm dois carros e uma poodle. Agora vão tentar financiar aquele apartamento. 15 anos, mais o FGTS dela.

Adaptabilidade, tolerância, serenidade, imaginação, criatividade. Tudo se esgotou em tão pouco tempo. A tendência é piorar. Um projeto em comum é capaz de uni-los novamente. Quem sabe se ela ficasse grávida.

Ele pediu demissão. Não suportava mais o Freitas da contabilidade, que sempre pedia pra ele somatizar a fatura antes de protocolizar no financeiro.

Ela tem vontade de bater, dar um soco no nariz dele, mandá-lo embora. Se contém, mas ele dorme aquela noite no sofá, com a poodle no colo.

Ele se levanta durante a noite. Está calor, quer um copo d’água. Caminha na ponta dos pés e passa na porta do quarto. Ela é linda dormindo. Saudade. E remorso. Mas ele pensa: por hoje chega.

Uma semana depois e ela ainda só responde sim e não. Voltarei a estudar – ele fala.

No primeiro mês venderam o carro novo. Depois as bicicletas e o anel que o pai dela lhe deu na formatura. Até aquele casaco horrível comprado numa noite gelada em Curitiba foi pro brechó.

O condomínio atrasou no mesmo mês que ele foi convocado pro novo emprego. Agora vai – pensou.

Boa parte do salário ainda vai pra pagar os empréstimos. Ainda falta terminar de pagar os livros e as apostilas, comprados no cartão de crédito. Mas já não tá pesando tanto. E o melhor de tudo: setembro é a última parcela.

Mesmo assim, ela ainda acha que ele foi irresponsável. Não se sente plenamente segura ao seu lado. Às vezes ele é tão moleque.

Antigamente era até engraçado. Teve aquela festa que a turma foi, mas o ingresso custava 80 reais e eles passaram o sábado assistindo Lost e fritando bolinhos de chuva. Ela sorriu só de lembrar. Mas agora aparece no extrato só 200 reais até o fim do mês. E acontecer alguma coisa? Ainda bem que não comprei aquela blusinha. Não tem mais graça nenhuma.

O que os faz continuar juntos? Adivinhe.

Ao invés do jovem casal, imagine agora um cara de quase 30 anos recém-casado com uma mulher mais velha, divorciada e com duas filhas. Eleve tudo ao cubo.