5 de março de 2010

GORDOS POBRES E MAGROS RICOS: UMA TEORIA




Não sou biólogo. Só metido a esperto. Por isso, formulei uma explicação para algo que me intriga há tempos: Por que de uns tempos pra cá os gordos são pobres em sua maioria?

Minha família possui um recorte social interessante. No lado de minha mãe, quase todos são longelíneos e de classe média.

No lado paterno é o inverso. Financeiramente, prosperaram pouco. E quase todos têm tendência a engordar.

Mas é fácil observar que isso não acontece só na minha família. Basta andar pela cidade.

Uso São Paulo como exemplo, pois é onde vivo atualmente. Mas acontece a mesma coisa nas demais cidades em que morei.

Vamos lá.

Dê uma espiada nas ruas de comércio popular da Penha ou da Rua 25 de Março. Há uma quantidade razoável de pessoas acima do peso andando pelas ruas. Homens, mulheres, crianças, todos andando de lá pra cá, disputando espaço nas conduções lotadas e nas calçadas apertadas, com suas roupas baratas e folgadas, cabelos desgrenhados e dobrinhas em torno da cintura de muitos.

Agora vamos partir em direção à Avenida Paulista. A rua é tomada por carros reluzentes deslizando de lá pra cá, à frente de edifícios envidraçados. Nas calçadas largas, homens esguios, com calças e camisas de corte reto, estreito. As moças são esbeltas, de cintura fina, com a silhueta alongada pelas roupas justas ao corpo.

À primeira vista, não faz sentido. Eu sei. Mas existem algumas teorias sobre isso.

A maioria dessas teorias analisa as diferenças educacionais e culturais entre pobres e ricos. Todas elas podem ser resumidas da seguinte maneira: os pobres, por serem pouco instruídos, comem alimentos excessivamente calóricos e não se dão conta de que isso os faz engordar, enquanto os ricos fazem uma dieta balanceada, formada por nutrientes com baixo teor de gordura.

Só que essa explicação não me convence. Por dois motivos. Em primeiro lugar, pobres e ricos, em seu dia-a-dia, fazem refeições semelhantes. Arroz com feijão (ou alguma massa), salada e um tipo de carne. Não foge muito disso, seja num bistrô sofisticado, seja num PF do boteco da esquina.

Em segundo lugar, mesmo que os pobres fizessem refeições mais gordurosas isso não bastaria para fazê-los ganhar peso. Salários baixos, em geral, são pagos a profissões mais desgastantes, que envolvem esforço físico intenso. O gasto calórico é alto.

Isso sem contar que para chegar ao local de trabalho os pobres percorrem grandes distâncias a pé ou em pé. Só no caminho entre casa e emprego o sujeito já gastou muitas calorias.

Daí você me pergunta: “Tá bom, ô espertão, então o que explica os rechonchudos da Vila Nhocuné e as magrelinhas do Itaim Bibi?”.

Vejamos.

Pobres descendem de famílias pobres. Ricos descendem de ricos – ou de pobres que subiram na vida e se casaram com ricos.

Se puxarmos pela árvore genealógica de um pobre, haverá diversos antepassados escravos, servos, lacaios e toda a sorte de trabalhadores braçais. Todos precisavam enfrentar serviços pesados, que, por serem menos nobres, remuneravam pouco ou quase nada. Garantiam, no máximo, a subsistência da mão-de-obra.

Essas pessoas, portanto, precisavam contar com um tipo físico que melhor se adequasse às suas rotinas. Isso acabou forçando uma “seleção natural” entre as classes baixas, já que só sobreviviam pessoas com genes adaptáveis a essas situações. Resistiam apenas aqueles que suportavam horas e horas de trabalho pesado, mesmo comendo pouco.

Já nas famílias ricas essa seleção não houve. Seus membros tinham profissões menos desgastantes, além de poder se alimentar mais vezes.

Daí veio o século XX, trazendo com ele os direitos humanos, a revolução do agribusiness com suas supersafras de alimentos e as transformações industriais proporcionadas pela mecanização.

Consequências: Todos se conscientizaram quanto à necessidade de remunerar os funcionários de maneira minimamente digna, além da mera subsistência, mesmo aqueles dos escalões inferiores. Além disso, os serviços braçais passaram a ser mais mecanizados e menos desgastantes. De forma paralela, os alimentos se tornaram mais baratos e acessíveis.

E o que aconteceu com aquelas pessoas cujos genes, durante séculos, foram selecionados para fazer o melhor uso possível das calorias ingeridas? Agora que os serviços, embora ainda duros, já não demandam tanto gasto energético quanto antes e a oferta de comida é muito maior, como o corpo delas reage?

Elementar, meu caro Watson.