10 de março de 2011

TRAVESSURAS DA MENINA MÁ – MARIO VARGAS LLOSA





Nos últimos dois anos eu tenho desenvolvido uma teoria baseada numa conclusão literária óbvia: Livros grandes são grandes porque precisam ser grandes.


Um livro repleto de longas e numerosas páginas contém uma ideia que não tem como ser resumida. É razoável acreditar, inclusive, que o próprio escritor tenha sido o primeiro a esgotar as tentativas de reduzir a narrativa ao máximo (ou ao mínimo, no caso).

O raciocínio é o mesmo para os textos mais curtos. Não dá pra estender uma novela ou mesmo um conto de forma artificial – fatalmente haveria encheção de linguiça e a redação perderia a sua força.

No entanto, um romance de fôlego, cujo texto se estende por dezenas de milhares de palavras, para ser apreciado como deve, tem que ter ritmo. E minha teoria parte do pensamento de que esses tratados quilométricos só passam pelo crivo da posteridade por conterem exatamente isso: ritmo.

E o que é o ritmo no contexto literário? É a solução encontrada pelo autor para que a velocidade da narrativa esteja de acordo com os acontecimentos contidos em cada página, de um modo tal que tanto o estilo da escrita como a história em si estejam em sincronia.
 
Me dei conta disso ao perceber que demorei o mesmo tempo (3 semanas) para ler tanto “Crime e Castigo” de Dostoiévski (um calhamaço de quase mil páginas) como “O Processo” de Kafka (um livreto com menos de 200 pág.).

Hoje, decorridas as mesmas 3 semanas após o início da leitura de “Travessuras da Menina Má”, terminadas as suas 400 páginas, consolido a minha teoria. O ritmo da escrita de Vargas Llosa não é tão rápido como a narrativa quase policialesca de “Crime e Castigo”, tampouco se rasteja como no claustrofóbico “O Processo”. O que une as 3 obras, no entanto, é que a fluidez da história advém justamente da adequação entre a agilidade do texto e aquilo que está sendo revelado. É o que caracteriza, portanto, um grande mestre na arte (ciência?) de contar histórias.

O escritor peruano, a propósito, expõe a sua maestria ao demonstrar de maneira irretocável que é possível, sim, apanhar um punhado de clichês, temperá-los com erotismo (e alguma pieguice) e construir com isso um poderoso romance. Palmas para ele.