Li a edição mais recente desse romance curto, relançado pela Companhia das Letras comprimido num mesmo volume junto com a novela "Abacaxi" (que ainda não li). Digo que é a edição mais recente porque, como dito no prefácio do livro, o autor, Reinaldo Moraes, a cada relançamento de suas obras, recauchuta o texto, com intervenções aqui e ali.

Mas o que mais me chamou a atenção durante a leitura (além do estilo, que tornou Reinaldo num escritor idolatrado pelos seus leitores) foram as inúmeras semelhanças com "Travessuras da Menina Má", do Vargas Llosa. A saber:

- Os dois livros são protagonizados por um Ricardo;
- Narrativa em primeira pessoa;
- Os principais personagens, bem como os protagonistas, são latino-americanos;
- Cada Ricardo é chamado pelo diminutivo (Ricardinho e Ricardito) por suas amantes;
- Ambos são funcionários públicos;
- Os protagonistas têm amigos que tentam encorajá-los a se tornarem escritores;
- As duas histórias se passam, em sua maior parte, em Paris;
- Em "Tanto Faz", Ricardo mora na Rue des Écoles, e em "Travessuras", Ricardo vive na École Militaire;
- Os "clochards" parisienses têm um papel crucial em ambas as histórias;
- Tanto o escritor brasileiro como o peruano se utilizaram de elementos confessadamente autobiográficos em seus romances.

Talvez eu tenha esquecido alguma coisa, mas acho que já deu pra entender o que quero dizer.

Como eu disse, eu li a versão mais recente de "Tanto Faz", mas o livro foi publicado originalmente em 1981. Já "Travessuras da Menina Má" teve sua primeira edição em 2006. Não quero crer que o escritor peruano, vencedor do Nobel de Literatura no ano passado, tenha feito plágio da obra de Moraes. Apesar das coincidências, as histórias e o estilo de ambos os autores são muito diferentes. Mesmo os dois Ricardos só têm em comum o nome - suas aspirações e personalidades são praticamente opostas. Mas, diante de tantas semelhanças entre ambas as tramas, é de se pensar se Vargas Llosa não fez, ao menos, uma homenagem ao escriba paulistano.

Aliás, muito me surpreende que jamais tenham levantado essa hipótese.



PS: Fiz o seguinte comentário desse livro, publicado no Resenha em 6:

No início dos anos 80, o Brasil atravessa um impasse, sem saber o que esperar do futuro, seja com ditadura ou democracia. Nesse cenário, Ricardo, um jovem em início de carreira, vive seus próprios dilemas. Como escolher entre ser um burocrata entediado em São Paulo ou um boêmio endividado em Paris? E, afinal, a narrativa é em 1ª ou em 3ª pessoa? Tanto faz?