Leia ouvindo: 30 Seconds To Mars - Kings and Queens
Minha
irmã tem uma mania. Não chega a ser um defeito, mas é engraçado. Ela é curiosa e sempre
pergunta alguma coisa a cada conversa nossa. Daí, de tempos em tempos, ela repete essa mesma pergunta. Ela não
consegue evitar, faz parte da personalidade dela. Eu dou risada.
Passamos
alguns dias juntos agora na semana do natal. E pra variar ela me fez uma
pergunta que já tinha feito algumas vezes anos atrás. Ela queria saber por que escolhi
fazer faculdade de Economia. E eu, como sempre, respondi que fiz Economia
porque gosto de videogames.
Explico.
Sempre gostei muito de videogames. Demais. Além de gostar de jogar, eu também
sempre li bastante sobre o assunto. Na adolescência eu tive coleções inteiras
de revistas que falavam de games. Essas revistas traziam a história por trás
dos jogos, avaliações de cada videogame em particular e também anúncios com os
preços dos aparelhos.
Esse
último item, o preço, sempre me interessou muito. Afinal eu era somente um
rapaz latino-americano de 13 anos e uns trocados no bolso. Era preciso fazer muitas
contas antes de comprar o jogo do momento.
Naquela
época não existia ainda o Real. No Brasil só havia umas moedas malucas, sem
valor, que mudavam a cada ano. Como os videogames eram importados, seus preços
eram cotados em dólar. Eu achava maneiro, já que isso facilitava na hora de
fazer as contas.
Os
aparelhos (Mega Drive ou Super NES) custavam 160 dólares em média. Os jogos (cartuchos),
de 30 a 40 dólares. E ponto final.
Era
uma época diferente. Os aparelhos era relativamente baratos, mas os cartuchos
nem tanto. Todo mundo tinha um videogame, mas somente 2 ou 3 cartuchos. Era
comum alugarmos os jogos. Todo bairro tinha uma locadora de videogames
minimamente decente.
Só
que aí veio 1994. No Brasil foi lançado o Plano Real e lá fora se iniciou a era
PlayStation. O aparelho da Sony revolucionou o mercado de videogames. Embora muito
mais sofisticado que os aparelhos anteriores, o PS usava CDs ao invés de
cartuchos, o que tornava seus jogos mais acessíveis. Foi um videogame que quebrou
recordes de venda e criou um novo padrão de consumo no mundo inteiro.
Mas
aqui o mercado simplesmente enlouqueceu. Antes cotados em dólar, no Brasil os aparelhos
e jogos passaram a ser vendidos em Reais. Porém, se os preços em dólares eram
estáveis até 1993, a partir do ano seguinte eles passaram a ser remarcados todo
mês. Videogames que custavam 160 dólares passaram a custar 200 reais. No mês
seguinte eram vendidos a 250 reais. Um mês mais tarde, custavam 300. Algum
tempo depois já estavam batendo na casa dos 500 reais. E continuaram subindo
nesse ritmo nos anos seguintes. Detalhe: isso aconteceu numa época em que um
real era praticamente o mesmo preço de um dólar.
Como
resultado, enquanto o mundo via o PlayStation se tornar um fenômeno pop, no
Brasil o mercado de videogames ficou estagnado. Nenhum aparelho da nova geração
foi vendido por aqui oficialmente. Apenas aparelhos antigos eram vendidos.
Vários foram relançados – alguns somente com a carcaça nova; outros, nem isso. Foi
uma época ruim para os brasileiros fãs de jogos eletrônicos.
Para
mim, do alto dos meus 15 anos, era óbvio que o mercado nacional de videogames
se auto-destruiu. Em um curto espaço de tempo, vendedores completamente sem
noção acabaram com um mercado dinâmico e bem estruturado. Por mais que gostasse
de jogar, ninguém em sã consciência gastaria o equivalente a 10
salários-mínimos da época em um brinquedo. E eu fiquei sem comprar um videogame
daquela geração. E também fiquei sem comprar um aparelho da geração seguinte (PlayStation
2). E só comprei um PS 3 com mais de 30 anos nas costas – e isso porque tenho
um emprego com salário razoável e poucos gastos.
Enfim,
voltando à minha adolescência, quando todo mundo tinha um videogame e de
repente ninguém tinha mais nenhum, eu percebi que pra compreender melhor esse
fenômeno eu precisaria aprender alguma coisa sobre o funcionamento dos
mercados. Eu não me conformava com aquilo de não poder mais jogar os jogos que
o mundo inteiro jogava. Queria entender o que causou essa reviravolta, o que
exatamente estava impedindo a mim e aos meus amigos de passar os domingos
detonando os lançamentos daquela semana, como a gente tinha se acostumado a
fazer nos 5 anos anteriores.
Daí
enfiei na cabeça que iria fazer vestibular pra Economia. E em 1999 lá estava eu
de cara pintada e cabelo raspado assistindo à primeira aula do curso de
Ciências Econômicas da Unesp em Araraquara.
E foi
assim que os videogames me fizeram querer estudar Economia. Na segunda parte (que você pode ler clicando AQUI), eu explico mais detalhes sobre os estudos que fiz sobre os dois assuntos. Até lá.