28 de dezembro de 2012

VIDEOGAMES E ECONOMIA - Parte I




Minha irmã tem uma mania. Não chega a ser um defeito, mas é engraçado. Ela é curiosa e sempre pergunta alguma coisa a cada conversa nossa. Daí, de tempos em tempos, ela repete essa mesma pergunta. Ela não consegue evitar, faz parte da personalidade dela. Eu dou risada.

Passamos alguns dias juntos agora na semana do natal. E pra variar ela me fez uma pergunta que já tinha feito algumas vezes anos atrás. Ela queria saber por que escolhi fazer faculdade de Economia. E eu, como sempre, respondi que fiz Economia porque gosto de videogames.

Explico. Sempre gostei muito de videogames. Demais. Além de gostar de jogar, eu também sempre li bastante sobre o assunto. Na adolescência eu tive coleções inteiras de revistas que falavam de games. Essas revistas traziam a história por trás dos jogos, avaliações de cada videogame em particular e também anúncios com os preços dos aparelhos.

Esse último item, o preço, sempre me interessou muito. Afinal eu era somente um rapaz latino-americano de 13 anos e uns trocados no bolso. Era preciso fazer muitas contas antes de comprar o jogo do momento.

Naquela época não existia ainda o Real. No Brasil só havia umas moedas malucas, sem valor, que mudavam a cada ano. Como os videogames eram importados, seus preços eram cotados em dólar. Eu achava maneiro, já que isso facilitava na hora de fazer as contas.
 
Os aparelhos (Mega Drive ou Super NES) custavam 160 dólares em média. Os jogos (cartuchos), de 30 a 40 dólares. E ponto final.

Era uma época diferente. Os aparelhos era relativamente baratos, mas os cartuchos nem tanto. Todo mundo tinha um videogame, mas somente 2 ou 3 cartuchos. Era comum alugarmos os jogos. Todo bairro tinha uma locadora de videogames minimamente decente.

Só que aí veio 1994. No Brasil foi lançado o Plano Real e lá fora se iniciou a era PlayStation. O aparelho da Sony revolucionou o mercado de videogames. Embora muito mais sofisticado que os aparelhos anteriores, o PS usava CDs ao invés de cartuchos, o que tornava seus jogos mais acessíveis. Foi um videogame que quebrou recordes de venda e criou um novo padrão de consumo no mundo inteiro.

Mas aqui o mercado simplesmente enlouqueceu. Antes cotados em dólar, no Brasil os aparelhos e jogos passaram a ser vendidos em Reais. Porém, se os preços em dólares eram estáveis até 1993, a partir do ano seguinte eles passaram a ser remarcados todo mês. Videogames que custavam 160 dólares passaram a custar 200 reais. No mês seguinte eram vendidos a 250 reais. Um mês mais tarde, custavam 300. Algum tempo depois já estavam batendo na casa dos 500 reais. E continuaram subindo nesse ritmo nos anos seguintes. Detalhe: isso aconteceu numa época em que um real era praticamente o mesmo preço de um dólar.
 
Como resultado, enquanto o mundo via o PlayStation se tornar um fenômeno pop, no Brasil o mercado de videogames ficou estagnado. Nenhum aparelho da nova geração foi vendido por aqui oficialmente. Apenas aparelhos antigos eram vendidos. Vários foram relançados – alguns somente com a carcaça nova; outros, nem isso. Foi uma época ruim para os brasileiros fãs de jogos eletrônicos.

Para mim, do alto dos meus 15 anos, era óbvio que o mercado nacional de videogames se auto-destruiu. Em um curto espaço de tempo, vendedores completamente sem noção acabaram com um mercado dinâmico e bem estruturado. Por mais que gostasse de jogar, ninguém em sã consciência gastaria o equivalente a 10 salários-mínimos da época em um brinquedo. E eu fiquei sem comprar um videogame daquela geração. E também fiquei sem comprar um aparelho da geração seguinte (PlayStation 2). E só comprei um PS 3 com mais de 30 anos nas costas – e isso porque tenho um emprego com salário razoável e poucos gastos.

Enfim, voltando à minha adolescência, quando todo mundo tinha um videogame e de repente ninguém tinha mais nenhum, eu percebi que pra compreender melhor esse fenômeno eu precisaria aprender alguma coisa sobre o funcionamento dos mercados. Eu não me conformava com aquilo de não poder mais jogar os jogos que o mundo inteiro jogava. Queria entender o que causou essa reviravolta, o que exatamente estava impedindo a mim e aos meus amigos de passar os domingos detonando os lançamentos daquela semana, como a gente tinha se acostumado a fazer nos 5 anos anteriores.

Daí enfiei na cabeça que iria fazer vestibular pra Economia. E em 1999 lá estava eu de cara pintada e cabelo raspado assistindo à primeira aula do curso de Ciências Econômicas da Unesp em Araraquara.

E foi assim que os videogames me fizeram querer estudar Economia. Na segunda parte (que você pode ler clicando AQUI), eu explico mais detalhes sobre os estudos que fiz sobre os dois assuntos. Até lá.